Segunda-feira. Que dia será quando você me lê? Aqui em Santa Rosa do Sul estou em um festival de música. Olhando ao redor, durante a maioria dos shows, é fácil perceber: metade dos corpos dançam, a outra metade parece de árvores que balançam levemente ao vento. Enquanto as mulheres se soltam entregues ao ritmo, os homens permanecem rígidos, tensos.
Por que somos assim?
Decido copiar os movimentos das mulheres ao redor e subitamente me vejo aprendendo vários passos e trejeitos - alguns mais sutis, outros que exigem uma entrega total do meu corpo. Eu não sou tão diferente dos homens que vejo: me percebo todo tempo tentando controlar, julgando os movimentos, buscando a lógica no sentir.
Estudando sobre “ser homem” no Brasil me deparo com os dados:
- 6 em cada 10 homens concordam que foram ensinados a NÃO expressar suas emoções. (Instituto PdH e Zooma Inc)
- 7 em cada 10 homens não falam de seus medos, dúvidas e sentimentos profundos com os amigos. (ONU Mulheres e Papo de Homem)
Sim, eu me identifico com esses dados. Estou acostumado a passar horas com amigos falando sobre futebol, mulher e cerveja. Sabe, a solução não é (só) ir para uma escola de dança. Não dançar é o sintoma, não falar sobre emoções é a raiz. Como homens, somos condicionados a padrões: estéticos, comportamentais, padrões de gostos, de compra, de pensamentos e crenças que vem desde antes de nascermos! Estamos na barriga de nossas mães e já escutamos: “Esse vai pegar todas”, “Vai ficar tão lindo de terno”, “Imagina, daqui a pouco já tá se formando engenheiro”. Nascemos, crescemos e vivemos aprendendo a atender essas expectativas, que são muitas vezes inconscientes.
Quantas coisas você já fez para atender às expectativas da sociedade sobre você? O jeito como você se veste, sua postura, a altura da sua risada ou do seu arroto, seu corte de cabelo, o jeito como você dança…
O problema é que nós, homens, não falamos sobre isso, então achamos que estamos sozinhos - mas os padrões se repetem. As frases são as mesmas, as cobranças, os sentimentos reprimidos. Somos espelhos. E por isso é tão importante criarmos espaços nos quais podemos falar sobre tudo isso. Falar sobre um problema é o primeiro passo para resolvê-lo.
Na Jornada Solar criamos essas rodas, assim como fazem outras centenas de iniciativas pelo Brasil. Quando conversamos olho no olho sobre assuntos profundos conseguimos nos ver no outro, e assim encontramos uma outra possibilidade de ser quem somos. Ao aceitar o outro, aceito a mim.
Minha cura é a sua cura.
Roda de homens no festival Bradamundo - Foto: Gustavo Paitch
Autoaceitação gera autocuidado.
Quando me aceito, me expresso. Danço, canto, vivo!
E você, dança?
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